A princípio, a ideia deste primeiro post era apenas publicar o vídeo do Louie Zong com o título Hello World. Não foi algo planejado, apenas uma ideia jocosa que surgiu enquanto eu migrava o site da hospedagem antiga para a nova e ajustava a estrutura para comportar as novas páginas do blog.
A graça, para mim, está em brincar com esse mito da programação que diz que, se você está criando algo, sua primeira interação precisa ser um Hello World para evitar má sorte. Como cético, não acredito nisso. Acho até fofo, mas nunca botei fé.
Porém, ao reescutar a música enquanto preparava este post, fiquei sentimental ao perceber todas as conexões que tenho com ela — tanto com meu eu presente quanto com meu eu passado.
A primeira vez que ouvi essa música, eu nem pensava em ser programador. Talvez nem tivesse cogitado. Foi provavelmente no ano de seu lançamento, 2018, o mesmo ano em que saí da casa dos meus pais e me mudei para outra cidade, de Goiânia para São Paulo. Das poucas músicas baixadas no meu celular, essa era uma delas.
Lembro-me de ficar melancólico ouvindo-a nos transportes públicos de São Paulo. Recordo-me, inclusive, de ouvi-la enquanto me perdia na paisagem urbana de Guarulhos, pela janela de um Uber, a caminho da minha primeira entrevista de emprego de verdade.
Fui péssimo nessa entrevista. Era para um call center, e a dinâmica era em grupo. Quando fui rejeitado, tentei pegar meu currículo impresso de volta, mas a moça precisou repetir que eles iriam ficar com os currículos. Como eu era bobinho… Hoje consigo lembrar disso sem sentir vergonha alheia — ou, melhor dizendo, sem vergonha de mim mesmo.
Naquela época, eu também estava me descobrindo romanticamente, entendendo-me, explorando minha sexualidade e descobrindo o mundo. O verso “Will I find a love” fez com que eu me identificasse profundamente com a música, pois refletia o que eu estava vivendo.
Além disso, me conectava também com o questionamento dá máquina para com seu próprio criador.
Hoje, seis anos depois, ao ouvir essa música em loop, sinto uma nostalgia forte, mas também me conecto por novos motivos — e por evoluções dos motivos antigos.
Neste momento, estou passando por um redescobrimento romântico: entendendo meus limites, os limites das pessoas ao meu redor e aprendendo a ser alguém melhor para me amar, amar e ser amado. O verso “Programmed to work and not to feel” me remete a toda essa jornada dolorosa de desconstrução e construção e meus problemas com meu pai.
Além disso, desde aquela época, coloquei como um dos meus maiores objetivos tornar-me programador e ser contratado. Estou nessa jornada há três anos e, recentemente, fui contratado como programador. Isso me deixa muito feliz.
O tema da música é solidão, e eu sou alguém que frequentemente se sentiu isolado ao longo da vida. Assim, o que começou como um protesto contra todos os Hello Worlds mitológicos acabou se tornando uma viagem interna que me gerou várias reflexões.
Fico feliz por escrever.